COP-26: indústria brasileira se destaca por pioneirismo
Foto: indústria do cimento utiliza combustíveis alternativos para a produção, como resíduos e pneus (Divulgação)
Iniciativas de empresas locais na prática de economia de baixo carbono devem atrair investimentos para diversos setores
Por CNI – 04/11/2021 (Valor Econômico)
Os interessados em indústrias comprometidas com o meio ambiente e a sustentabilidade se sentirão tentados a demorar mais tempo no estande do Brasil na COP-26 diante de tantas novidades. Por meio da CNI, o setor apresentará ao público de Glasgow experiências empresariais bem-sucedidas, alinhadas com o projeto nacional da instituição para consolidar a economia de baixo carbono.
Dentre as iniciativas promovidas pelas empresas do setor estão o uso de matérias- primas alternativas (filler calcário, escórias siderúrgicas e cinzas de termelétricas, por exemplo) e combustíveis alternativos tais como biomassas, resíduos industriais, comerciais e domésticos, pneus, entre outros. Essas ações elevaram o Brasil a condição de referência global como o país que menos emite CO2 por tonelada de cimento produzida no mundo.
A indústria de cimento brasileira se destaca por um processo industrial menos agressivo, já que o segmento responde por cerca de 7% de todo o gás carbônico emitido pelo homem, mas, no Brasil, a participação cai para quase um terço da média mundial, 2,3% (dados do Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa não Controlados pelo Protocolo de Montreal).
A partir dessas frentes aliadas à eficiência energética e captura e estocagem de carbono, a indústria espera reduzir em 33% suas emissões até 2050, evitando a emissão de 420 milhões de toneladas de CO2. Isso implicará a redução da intensidade carbônica do cimento brasileiro de 564 kg por tonelada, hoje a menor emissão global, para 375 kg por tonelada — afirma Paulo Camillo Penna, presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) e da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
Net Zero
Outro destaque em neutralização de carbono é a JBS, primeira empresa global do setor de proteína a estabelecer a meta Net Zero, com compromisso de alcançar esse objetivo até 2040. A proposta da empresa é zerar o balanço líquido das emissões de gases causadores do efeito estufa, reduzindo suas emissões diretas e indiretas e compensando todo residual até 2040. A empresa é a segunda maior empresa de alimentos do mundo e a primeira no setor de proteína.
Empresa de produtos de limpeza ultraconcentrados sem químicos e vendidos em cápsulas retornáveis e recicláveis, a YVY oferece seus produtos não poluentes por meio de e-commerce. O comprador tem acesso a um item fabricado sem nenhum ingrediente sintético nem embalagens plásticas de uso único. Inovação na categoria economia circular, tanto no modelo de negócios quanto no processo de fabricação, e exemplo para encher os olhos dos investidores.
No Paraná, a Federação das Indústrias (Fiep) atua junto ao governo do estado para criar uma política pública específica para economia circular e também apoia as empresas locais que se adequem à nova legislação.
Energia limpa
Cases de indústrias que utilizam fontes renováveis de geração de energia reforçam a adesão do setor à transição energética na indústria brasileira. A Aperam South America e a sua subsidiária, a Aperam BioEnergia, produtora de aço, são as únicas do segmento no mundo a utilizar apenas carvão vegetal como combustível, tendo como resultado o Aço Verde Aperam.
Já a Fibertex, que investe em fibras recicladas de garrafas PET, usa energia proveniente 100% de fonte renovável e tem um sistema de energia fotovoltaica para a área do escritório administrativo, sustentável em diferentes etapas produtivas.
Produção de cimento
A indústria do cimento brasileira desenvolveu o Roadmap Tecnológico do Cimento, uma ferramenta que mapeia diferentes cenários e alternativas capazes de acelerar a transição de baixo carbono do setor a curto, médio e longo prazos até 2050. Com a medida, a indústria espera reduzir em 33% suas emissões projetadas. Entre as alternativas propostas, o uso de matérias-primas alternativas, ou adições, representaria 69% do potencial de redução do setor, enquanto os combustíveis alternativos respondem por 13%.
O projeto foi resultado da parceria com a Agência Internacional de Energia (IEA), a Corporação Financeira Internacional (IFC), o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e especialistas de universidades e centros tecnológicos do país.
As alternativas propostas pelo segmento se concentraram em quatro principais pilares. O primeiro, entre as ações para acelerar a transição, está relacionado às matérias-primas alternativas, por meio de adições e substitutos de clínquer, produto intermediário do cimento como escórias siderúrgicas, cinzas volantes e fíler calcário. Os combustíveis fósseis não renováveis também seriam substituídos por alternativos, por meio da utilização de biomassas e resíduos com poder energético em substituição.
Medidas de eficiência energética, mediante investimentos em linhas e equipamentos de menor consumo térmico e/ou elétrico, constituem o terceiro pilar. O quarto pilar é desenvolvido por meio de inovações, com pesquisa e desenvolvimento em tecnologias disruptivas como a captura de carbono.
Papel e celulose
Talvez o mais representativo dos pilares da estratégia de baixo carbono da CNI, o eixo de conservação florestal se destaca pela indústria de papel e celulose, com o avanço de biotecnologia para um processo mais sustentável, e pelo investimento em concessões florestais. A indústria brasileira de árvores é responsável por 7% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial do país, e o Brasil abriga nove milhões de hectares de árvores plantadas e 5,9 milhões de hectares para conservação. De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), 90% da energia consumida pelo setor é renovável e 70% vêm de autoprodução.
A indústria nacional de produção de papel também é uma das que mais reciclam no Brasil, com uma média de 70% do total produzido, ainda segundo o Ibá. Outra medida sustentável do segmento foi a redução em 75% da água necessária para produzir uma tonelada de celulose, além do índice de reaproveitamento de 43%.
A CNI defende a inclusão, em processos de concessões florestais, as terras devolutas, que hoje somam mais de 60 milhões de hectares. As áreas públicas sem destinação pelo poder público ficam mais expostas à ação de grileiros e ao desmatamento ilegal. Ao todo, são quase 30 milhões de hectares de terras federais e aproximadamente 34 milhões de hectares de áreas estaduais.
A Lei 11.284, que trata de gestão de terras públicas, é de 2006 e, de acordo com Davi Bomtempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, o aprimoramento das regras para a concessão florestal deve contemplar modificações que reflitam aprendizados adquiridos ao longo dos últimos 15 anos.